sábado, 17 de julho de 2010

SÓCRATES, O HOMEM QUE PERGUNTAVA.

Sócrates (469 ou 470 á 399 a.C) é um marco. A ponto de os que vieram antes dele receberem todos, apesar de suas diferenças, o nome genérico de "pré-so­cráticos". Há quem considere que a filosofia propria­mente dita só começou, ou ao menos, só chegou à maturidade com Sócrates, que, no entanto, nada escreveu. Falava e muito, mas nada concluía. Qual é, então, seu pensamento?

O filosofo Sócrates, considerado o patrono da filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinha amor pela sabedoria, e nem respeito pela verdade defendendo qualquer idéia, discordando dos antigos poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, o que propunha Sócrates?.

Propunha que, antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer a ti mesmo. A expressão “conheça a ti mesmo”, que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. Por fazer do auto-conhecimento ou do conhecimento que os homens tem de si mesmos a condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem, particularmente de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade.

Sócrates era um homem que andava pelas ruas e pelas praças de Atenas, pelo mercado e pela assembléia indagando a cada um: “você sabe o que é isso que você esta dizendo?”, “você sabe o que é isso que você acredita?”, “você acha que está conhecendo realmente aquilo que acredita, aquilo que esta pensando, aquilo que esta dizendo?”, “você apenas diz, mas não sabe”, as indagações socráticas vão além de meras perguntas apenas, esta em saber fazer as indagações da forma certa, “que a coragem é importante: mas o que é a coragem, você acredita que a justiça é importante mas o que é realmente a justiça?”.

Sócrates fazia perguntas sobre as idéias, sobre valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos. Pois, quando tentavam responder a célebre questão “o que é?”, descobriam, surpresos que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas idéias. Mas o piro não era isso. O pior é que as pessoas esperavam que Sócrates respondesse pelas perguntas, para um descontentamento geral, Sócrates dizia: “eu não sei, por isso estou perguntando”. Donde surgiu a famosa expressão atribuída a ele “sei que nada sei”

A consciência da própria ignorância é o começo da filosofia. O que procurava Sócrates? Procurava a definição daquilo que seria uma coisa, uma idéia, um valor, procurava a essência verdadeira da coisa, da idéia, do valor. Procurava o conceito e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das idéias e dos valores.

Qual é a diferença entre uma opinião e um conceito? A opinião veria de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, de época para época. È instável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e preferências. O conceito, ao contrário, é uma verdade intemporal, universal e necessária de alguma coisa. Por isso, Sócrates não perguntava se tal ou qual coisa era bela, pois nossa opinião sobre ela pode variar, e sim, o que é beleza?, qual é a essência ou o conceito do belo? Do justo? Do amor? Da amizade?.

Sócrates perguntava: que razões rigorosas você possui para dizer o que diz?, e para pensar o que você pensa? . Qual é o fundamento racional daquilo que você fala e pensa?.

Ora, as perguntas de Sócrates se referiam as idéias, valores, praticas e comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros em si mesmo, mas também sobre a “Polis” (cidade estado). Aquilo que parecia evidentemente acabava sendo percebido como duvidoso e incerto.

Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento. Pois, o poder é mais forte sem ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são. Para os poderosos de Atenas, Sócrates torna-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles acusaram de desrespeitar os deuses, de corromper os jovens e violar as leis. Levado perante a assembléia, Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno chamado “cicuta”, cujo seu principio ativo faz o coração para lentamente.

Porque Sócrates não se defendeu? “porque” dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu não as aceito, se eu me defender , o que os juizes vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte que ter que renunciar a filosofia”. O julgamento e a morte de Sócrates são narrados por Platão numa obra intitulada “Apologia de Sócrates”, isto é, a defesa de Sócrates feita pelos seus discípulos contra Atenas.

Em busca da essência

Ele, porém, nunca vai diretamente à questão "o que é...?". Primeiro ouve e apresenta objeções aos ar­gumentos dos outros. É como se o pensamento tivesse de experimentar outras possibilidades antes de entrar na rota certa. O diálogo cumpre essa função de "expe­rimentação". O pensamento precisa de um interlocutor, com quem possa sempre discutir. O verdadeiro conhe­cimento nasce desse diálogo; não é transmissível do mestre ao aluno, mas arrancado do interior de uma discussão um verdadeiro trabalho de parto.

Sócrates, que dizia seguir a profissão da mãe, parteira, auxilia os homens a trazer à tona um conhecimento que já se encontra latente em cada um. Essa sua forma de filosofia seria conhecida como a “maiêtica socrática” (termo que significa, ajudar a dar a luz).

A pergunta "o que é...?" não é nova. Remonta aos tempos dos primeiros filósofos da Jônia. Sócrates, no entanto, transpõe essa questão, inicialmente destinada ao mundo da natureza, para o mundo dos homens e de suas ações.

Foi em Atenas, que consolidou a democracia, mas que assiste impotente à sua decadência, em que os valores políticos e morais aparecem cada vez mais conflitantes, ele indaga se existe um valor essencial a todos os homens, algo que seja a essência de todas as virtudes particulares, como a coragem, a sabedoria e a justiça.

Sócrates: A essência do homem (o homem é a sua Psyché ou a sua Alma)

Depois de um período de tempo em que ouviu a palavra dos últimos naturalistas, mas sem se considerar de modo algum satisfeito, como já dissemos, Sócrates concentrou definitivamente o seu interesse na problemática do homem.

Procurando resolver os problemas do “principio” da “physis”, os naturalistas se contradisseram a ponto de sustentar tudo e o contrario de tudo (o ser é uno, o ser é múltiplo; nada se move; nada se gera nem se destrói, tudo se gera e se destrói), o que significa que se propuseram problemas insolúveis para o homem. Consequentemente, ele se concentrou no homem, como os sofistas, mas, ao contrario deles, soube chegar ao fundo da questão, a tal ponto que chegou admitir, que dessa ciência era conhecedor.

Os naturalistas procuraram responder á seguinte questão: “O que é a natureza ou a realidade última das coisas?” Sócrates, porém, procura responder á questão: “O que é a natureza ou realidade última do homem?”, ou seja, “o que é a essência do homem?”.

Finalmente, a respostas é precisa e imediata: o homem é a sua alma, enquanto é precisamente a sua alma que o distingue especificamente de qualquer coisa. E por alma Sócrates entende a nossa razão e a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante.

Em seu pensamento mais adiante, Sócrates vai definir que a alma é o eu consciente, ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral, com esse modo de pensar, Sócrates acaba criando uma tradição “moral” e “intelectual”, que era avançada para a época, cujo Europa irar se beneficiar com essa filosofia humanista.

Evidentemente que, se a essência do homem é a sua alma, cuidar de si mesmo significa cuidar da própria alma mais do que do corpo. E ensinar aos homens a cuidarem da própria alma é a tarefa suprema do educador, precisamente a tarefa de Sócrates ter recebido de Deus, como se lê na Apologia:

“Que isto (...) é a ordem de Deus, E estou persuadindo de que não há para vós maior bem na cidade do que minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa que faço com minha andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que a alma, de modo que elas se tornem ótimas e virtuosíssima, e de que não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude que nasce a riqueza e todas as outras coisas que são bens para os homens, tanto individualmente para os homens como para estado”.

Um raciocínio fundamental feito por Sócrates para provar essa tese é o seguinte: uma coisa é o “instrumento” que se usa e outra é o “sujeito” que usa o instrumento. Ora, o homem usa o seu próprio corpo como instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento, que é o corpo, são coisas distintas.

Assim, á pergunta “o que é o homem?”, não se pode responder que é o seu corpo, mas sim que é “aquilo que serve de corpo”. Mas “o que serve do corpo é a psyché, a alma (= a inteligência)”, de modo que a conclusão é inevitável. A alma nos ordena á conhecer aquele que nos adverte, “conhece-te a ti mesmo”. Nesse ponto, Sócrates já levara a sua doutrina a tal ponto de consciência e de reflexão crítica que chegou a deduzir todas as conseqüências que logicamente brotam dela, como veremos.

O Conceito de Virtude ou “areté

Em Grego aquilo que chamamos hoje de “virtude” se diz “areté”, significando o que torna uma pessoa boa e perfeita no que é, ou melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa. Os Gregos falavam de vários tipos de virtude exemplo: a virtude de um cão, e de ser um bom guardião, o cavalo de correr velozmente e assim por diante.

Consequentemente, a virtude do homem não é outra do que a elevação de sua alma possa dedicar-se as coisas “boas” e “perfeitas”, que consequentemente são frutos da alma. Segundo Sócrates, esse elemento é a “ciência” ou o “conhecimento”, ao passo que o “vicio” seria a privação de ciência ou conhecimento, vale dizer a “ignorância”.

Desse modo, Sócrates opera uma revolução no tradicional quadro de valores. Os valores não são aqueles ligados ás coisas exteriores, como a riqueza, o poder, a fama, e tampouco os ligados ao corpo, como a vida, o vigor, a saúde física e a beleza, mas somente os valores da lama, que se resumem, todos no “bom conhecimento da alma”. Naturalmente, isso não significa que todos esse outros valores sejam desqualificados, significa simplesmente que em “si mesmo, não tem valor”, eles podem se tornar um valor, se o homem o usar com sabedoria e conhecimento elevado pela sua alma “areté”.Em resumo: riqueza, poder, fama, dinheiro, beleza e outras coisas semelhantes:

“... ao que me parece, por sua natureza, não podem ser chamados bens em si mesmos. A proposição é outra: dirigidos pela ignorância, revelam-se males maiores do que os seus contrários, porque mais capazes de servir a má direção; se no entanto, são governados pelo juízo e pela ciência ou conhecimento, são bens maiores; em si mesmos, nem uns nem outros tem valor”.

A condenação da Ética

A Sócrates interessam o homem e suas ações, exa­tamente àquelas tidas como virtuosas, numa época em que ser virtuoso é quase sinônimo de cidadão e tudo se justifica em nome da virtude, até mesmo as injustiças. Ele pergunta o que é a sabedoria, a beleza, a coragem e a justiça, porque procura, a partir desses diversos aspectos da virtude, chegar à questão das questões: o que é a virtude?

Conhecê-la torna-se, assim, o principal objetivo do verdadeiro conhecimento, só pratica o mal quem ignora o que seja a virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir bem. Desse modo, conheci­mento e virtude tornam-se sinônimos. Com Sócrates, as questões morais deixam de ser tratadas como conven­ções baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, e é o fundador da Ética.

Pensar racionalmente as questões morais implica denunciar tudo aquilo que aparece como virtude, desmascarando-o na sua falsidade. Mas com isso Sócrates põe o dedo na ferida da própria Atenas, que mergu­lhara em vícios e na corrupção, e fingia ser justa. Os poderosos decidem condená-lo. O pretexto é o de ofen­der os deuses da cidade e corromper a juventude.

A defesa que Sócrates faz de si próprio, foi relatada Platão. Sua morte é decretada a contra­gosto. Espera-se que ele fuja, as autoridades pode­riam fazer vista grossa, mas Sócrates, cidadão ate­niense, acha que a lei é soberana. Despede-se serena­mente dos amigos e morre tomando um cálice de cicuta, veneno extraído de uma pequena planta que crescia em pântanos nos arredores da cidade, e que faz o coração parar lentamente sem dor.

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