quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Kant e a Crítica da Razão

Immanuel Kant é de origem alemã, tendo nascido em Königsberg, atual Kaliningrado (pertence à Rússia desde 1946), em 22 de abril de 1724. Consta que não casou e não teve filhos. Faleceu em 1804, com cerca de 80 anos.

"A influência da filosofia de Kant foi, e continua sendo, tão profunda e tão vasta a ponto de converter-se em algo imperceptível. A investigação filosófica, no âmbito das tradições “analítica” e “continental”, é impensável sem os recursos lexicais e conceituais legados por Kant. Mesmo fora da filosofia, nas humanidades, ciências sociais e ciências naturais, os conceitos e estruturas de argumentação kantianos são ubíquos. Quem quer que exerça a crítica literária ou social está contribuindo para a tradição kantiana; quem quer que reflita sobre as implicações epistemológicas de sua obra descobrirá estar fazendo-o dentro dos parâmetros estabelecidos por Kant. Com efeito, muitos debates contemporâneos, em teoria estética, Literária ou política, mostram uma peculiar tendência para converter-se em discussões em torno da exegese de Kant. Em suma, nos menos de 200 anos desde a morte de seu autor, a filosofia kantiana estabeleceu-se como indispensável ponto de orientação intelectual". (CAYGILL, 2000)

O foco da filosofia de Kant é a gênese do conhecimento, os limites da metafísica e o fundamento das leis morais. Sobre a metafísica Kant escreve:

"Estou tão longe de admitir que a Metafísica, considerada objetivamente, seja algo sem importância ou supérfluo que, desde há algum tempo, particularmente desde que julgo compreender a sua natureza e o lugar que lhe compete entre os conhecimentos humanos, estou convencido de que dela depende o verdadeiro e duradouro bem da humanidade". (SANTOS, 1985)

No ano de 1770 Kant escreveu uma dissertação intitulada Acerca da Forma e dos Princípios do Mundo Sensível e Inteligível. Kant tinha à época 46 anos. Já era conhecido do público alemão pelos escritos filosóficos que tinha publicado. Com a dissertação ele ganhou o posto de professor de Lógica e Metafísica da Universidade de Konigsberg. Nessa obra ele postula uma diferença entre dois tipos de conhecimento:

Conhecimento sensível: o sujeito recebe “impressões” dos objetos. Nessa forma de conhecimento o sujeito lida com as aparências dos objetos, ou com o que Kant chama de “fenômenos”. Exemplo disso são os conceitos que temos de “calor” ou “frio”. São todos obtidos pela experiência, mas há dimensões desses conceitos que nunca experimentamos. Por exemplo, existe uma quantidade de calor no Sol cuja temperatura somos incapazes de experimentar, existem dimensões no espaço cósmico que jamais veremos, etc. Daí porque pode-se dizer que os dados que temos sobre calor, frio, espaço, etc., são fenômenos, aparências que captamos pela experiência. Todo fenômeno é uma experiência sensível limitada ao sujeito que percebe.

Conhecimento Inteligível: é a capacidade que o sujeito tem de “representar” as coisas conceitualmente, isto é, representar os dados que não podem ser captados pelos sentidos. Exemplo. Se você definir um quadrado
como “objeto que possui quatro lados”, a propriedade “quatro lados” é claramente obtida por sua experiência no contato com objetos desta dimensão. Mas o mesmo não ocorre com o conceito “possibilidade”. Você não encontra no mundo nada que possa ser identificado com esse conceito. Trata-se de um conceito abstrato, inteligível, cuja propriedade é definida inteiramente pelo pensamento.

A Crítica da Razão Pura

No Prefácio à segunda edição de sua mais importante obra, a Crítica da Razão Pura, de 1789, Kant escreve: 
"Até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém, todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que o nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram sob essa pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos mesmos que deve estabelecer algo sobre os objetos antes de nos serem dados". (KANT, 1996, p. 39)

Essas palavras de Kant anunciam um dos mais importantes passos que a teoria do conhecimento deu na história da filosofia. Quando Kant diz que “até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se regular por objetos”, ele está lembrando toda uma tradição que descrevia o conhecimento como resultado da relação entre uma consciência  (o sujeito) e uma realidade (objetos, eventos).

O passo de Kant, análogo ao projeto copernicano, como ele mesmo diz em seguida no Prefácio, é imaginar algo como a terra que gira sobre seu próprio eixo, criando a ilusão de que os objetos do ponto de vista da terra estão em movimento. Na consciência, diz Kant, é a mesma coisa. É a razão humana que, girando à velocidade da necessidade do saber, dá forma, aspecto e conceitos aos objetos. Desse modo, lá onde julgamos saber como funciona o universo, na verdade realizamos juízos possíveis dentro dos limites do saber que possuímos.

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